Definitivamente o atual momento da suinocultura brasileira já é o melhor dos últimos 15 anos, e somente devido à falta de dados históricos confiáveis não podemos afirmar ser o melhor de todos os tempos em termos de rentabilidade ao produtor. No entanto, uma pergunta é feita por todos os envolvidos com a cadeia produtiva da carne suína brasileira. Como conciliar o crescimento da atividade sem gerar uma nova crise no setor?
O momento presente é fruto da forte redução na oferta de animais para abate a partir do segundo semestre de 2012, ocasionada por 30 meses de desgaste na relação custo de produção/preço de venda. E mesmo após dois anos de melhora nas condições de mercado ainda não dá para afirmar com certeza se a oferta de suínos retomou o caminho do crescimento da atividade. A partir de março/14 o volume mensal de animais abatidos com inspeção federal, que representa mais de 90% do abate de suínos no Brasil, voltou aos patamares pré-crise, com todos os meses superando a marca de 2,6 milhões de animais. Mesmo apontando para uma retomada nos volumes, a curva de oferta de suínos em 2014 ainda não reflete o estágio de preços e de rentabilidade atual da atividade.
A análise dos dados anuais de abate demonstra que depois de uma sequência de vários anos seguidos de crescimento na oferta, mesmo em períodos de crise como foram os anos de 2007/2008, o número de suínos abatidos em 2014 vai ser aproximadamente 2,0% maior que em 2013 mas ainda 3,83% menor que 2012. O detalhamento dos números evidencia um dilema que ronda a cadeia produtiva. Sem crescer a produção não conseguimos expandir a economia da atividade e nem avançar no consumo per capita. Ao mesmo tempo, se o crescimento da produção não for acompanhado de um aumento real da demanda teremos certamente uma nova fase de perdas.
Pelo lado da oferta o Brasil tem total condição de duplicar e até mesmo triplicar sua produção de suínos, ou qual seria a dificuldade de produzirmos 7,0 ou 10,0 milhões de toneladas de carne suína senão a demanda por esta carne? A suinocultura brasileira tem na sua base um enorme potencial agrícola responsável pelo fornecimento de milho e soja para rações, uma disponibilidade de terras em condições ideais para implantação de granjas, um parque industrial consolidado que conta com players globais do segmento de proteína animal como BRF e JBS, e uma completa indústria de insumos veterinários.
É sempre pela demanda que começam os nossos problemas. Para aumentar a demanda para carne suína brasileira só há duas possibilidades: i) aumentar as exportações; e/ou ii) crescer o consumo doméstico. Parece bem simples evitar uma nova crise na suinocultura, mas o histórico dos últimos anos não tem mostrado isso. O atual momento é altamente favorável a este debate.
Por muitos anos acreditamos que o maior aumento da demanda viria de fatores externos, como conseguir vender para o Japão, aumentar as vendas para África, abrir o mercado da Coréia do Sul, vender para os Estados Unidos ou acreditar pela enésima vez que a Rússia seria a nossa salvação. No entanto, ao analisarmos os volumes exportados nos últimos anos temos que pensar seriamente onde queremos estar nos próximos 05, 10 ou 15 anos em termos de produção de carne suína.
É logico que há possibilidade de aumentar as exportações e um trabalho muito sério vem sendo feito para isso. Mas também é óbvio que precisamos debater de forma clara qual o real potencial de avanço no mercado externo, para assim definir o tamanho do esforço que precisará ser feito no mercado doméstico. O consumo per capita em 2014 deve ser igual ao de 2011, ao redor de 15,0 kg/hab./ano, pois se de um lado a oferta vai ser em torno de 3,0% maior que em 2011, neste mesmo período a população cresceu 2,7%, ou seja, o crescimento da oferta nos últimos 03 anos é aproximadamente igual ao crescimento demográfico.
Momentos de menor rentabilidade e mesmo de prejuízos voltarão acontecer, mas não podemos viver uma eterna incerteza, com medo de crescer e gerar uma crise. É hora de um planejamento estratégico para o setor, é hora de definirmos quais políticas públicas poderão auxiliar no crescimento da produção de carne suína, é hora de construirmos um programa de incentivo ao consumo que atinja o grande público. É hora de pensar no crescimento da suinocultura brasileira.
Fonte: Blog do Coser